terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

A CADEIRA LUÍS XV

(Com o pedido de desculpas aos nossos leitores e ao José Simões, voltamos a publicar o seu texto, agora na íntegra, uma vez que lhe roubámos dois parágrafos e defraudámos o seu valor.)



O mobiliário que mais agrada à maioria dos políticos, deve ser a cadeira Luís XV, tanto pela cadeira que, verdade se diga, é um dos mais antigos símbolos do Poder, como pelo próprio Luís XV, que o personificou em si mesmo…

O Poder, portanto…

Droga pesadamente viciadora, o Poder altera, normalmente, o comportamento dos indivíduos, num ápice. Tornado poderoso, o seu detentor, outrora pessoa decente, converte-se, frequentemente, num “junkie”, sempre à procura de mais e dele absolutamente dependente. Injectado pela droga do Poder, o “agarrado” começa a ter visões, confundindo aqueles que lho outorgaram com cãezinhos amestrados, de quem espera que lhe vão comer à mão. Incapaz de raciocinar numa base correcta, inverte os termos do mandato, e assume-se detentor de uma coisa que lhe não pertence, e para a qual foi apenas mandatado; na sequência, torna-se paranóico, e abusa da força para retaliar os fantasmas que lhe rondam como inimigos a mente febril. Ébrio pelo Poder, nas ressacas é assolado por amnésias frequentes, e conduz os seus actos no sentido exactamente contrário àquele que um dia prometeu... Rodeia-se de sabujos e de servos, seja na corte, seja fora dela: o negócio é a arma do silêncio… Dá-se ares de majestade. Aprende a articular os fonemas difusos de um dialecto extraterrestre, cujos termos não constam do dicionário e que, de facto, não significam absolutamente nada, mesmo depois de um esforço de tradução. Utiliza a burocracia de diligentes serviçais, dirigentes dos serviços, para manter distâncias, através de uma panóplia de truques “regulamentares” ao seu dispor. Sem limitação de mandatos, o mais certo seria converter-se em quadrúpede, dado manter o “background” de ignorância pré-primária sobre as matérias da cultura, pelas quais nutre um desprezo sobranceiro, em nome do pragmatismo político “pró-activo” e da “tecno-porcaria”, o que ajuda a completar-lhe o perfil, afinal, com a chaga cultural do subdesenvolvimento.

Esperar que este animal político tombe da cadeira, por distracção, enfado ou sonolência, não é aconselhável. Recomenda-se que o Povo volte a utilizar as ferramentas com que construiu a cadeira, para agora a desarticular, de modo a facultar ao fulano um “bate-cu” sem amnésias, diria mesmo inesquecível…

Para depois, podermos construir, finalmente, um assento democraticamente adequado.

Blogue “Da Luz & Da Sombra”, de jesimoes

em http://blogueluzesombra.blogspot.com

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