quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

CAVAQUEIRA SOCRÁTICA COM A FLOR DAS LARANJEIRAS, ONDE TAMBÉM SE FALA DO MILAGRE DAS ROSAS

Ora sente-se lá na cadeirinha, Excelência…

Está confortável?

Descontraia-se, então.

Diga-me uma coisa, só por curiosidade:

-Vosselência não estava habituada a ter contraditores, pois não?

(Não, não me refiro a esses “opositores”, que em vez de o contraditarem, até lhe têm feito “la vie en rose”…)

Não me julgue mal, mas creio que sempre os teve, contraditores…

Vê aqueles ali? Pois lamento dizer-lhe que não estão consigo, não se iluda: estão com o Poder. É o Poder que os atrai, e não o grau de qualidade do seu desempenho executivo. Negócios, negócios, políticas à parte…

E aqueles além? Sim, é verdade que quem cala consente, mas olhe que consentimento não é a mesma coisa que agrado… Sabe o motivo do seu silêncio? Têm medo, é verdade, receio de se manifestarem, porque o jardim é pequenino e acreditam que é melhor não pisarem a relva, para não serem multados… Vivem à sombra da laranjeira, com o bico calado, mas cá para mim não apreciam o pomar. Volta e meia olham para o canteiro das rosas e, discretamente, sempre em silêncio, lá vão eles regá-las… Sim, são eles que lhes dão água, porque pelo trabalho dos jardineiros desse lado do jardim, as rosas continuavam murchas…

Isto a vida, meu caro, não é um mar de rosas… Dir-me-á, com toda a propriedade, que com essas rosas pode Vossência bem. Pois tenho visto que sim! Aqui para nós, Vossa Senhoria lembra-se até, certamente, de quando as rosas não cheiravam a rosas… Acho que apodreceram no canteiro, qualquer coisa assim… Que falta de cuidado!

Mas, não se ria, Distintíssimo Líder. É certo que esse facto lhe permitiu a si chegar onde está, mas olhe que as suas laranjas, têm uma acentuada tendência para azedar… Deve ser do estrume, aliás, do adubo natural…

O problema, Elevadíssimo Executor, é quando a rapaziada que fornece a água para a rega, descobrir que o jardim tem roseiras e laranjeiras só para ornamentar… Vai ser um problema, sabe, porque esta gente vai ser capaz de tudo, quando se perceber ludibriada: o mais certo é quererem fazer-lhes a poda. Perdoar-me-á Vossa Excelência a ousadia, mas, por este andar, acredite que poderá converter-se em algo, semântica e factualmente, ainda pior.


José Simões

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