domingo, 28 de março de 2010

OS SUORES FRIOS DA VITÓRIA


O trabalho de dois anos deu resultado, triunfando Passos Coelho sobre a expectativa e falta de planificação da direcção de Manuela Ferreira Leite. Absorvidos pelo terreno político minado pelo PS e o fait-divers do Congresso, o cavaquismo dirigista não deu a devida atenção às questões internas. A única medida preventiva que tomaram foi, a de não lhes dar espaço no Parlamento.

A vitória de Passos Coelho, vista pelos observadores internos como expressiva, não terá a mesma leitura fora de portas. Os 61% de quase 79.000 militantes, representam apenas um terço do apoio do partido e, uma boa parte dos quadros influentes, (ainda) não estão com ele.

Sócrates, sabendo que ultrapassava um obstáculo de semelhança obstinada, apressou-se a saudar a vitória e desejar melhores relações entre partidos, distinguindo a falta de experiência do novo líder da linguagem autoritária de Ferreira Leite. O PS amarrou o PSD às suas propostas e o novo líder não tem antídoto, pelo menos até ao próximo Orçamento de Estado.

Outro dado relevante no panorama interno do PSD, é que se a percentagem de Aguiar Branco faz dele um serviçal, os 34% de Paulo Rangel, a qualidade dos apoios internos, a distância do Parlamento Europeu e a auréola de vencedor de umas eleições nacionais, deixam intacta a qualidade e o respeito de qualquer intervenção que venha a ser produzida no futuro.

Passos Coelho, que evidenciou muito nervosismo na hora da vitória, percebeu a situação e procurou, na posse dos resultados, dar a volta á questão, enviando convites à unidade e adiantando contar com os derrotados para os órgãos do partido.

Com a vitória de Passos Coelho, o lobby de Gaia e o de Mendes Bota a sul, também se sentem pela segunda vez vencedores. E com naturais expectativas quanto ao futuro, sacudindo um quase eterno ostracismo e injustiça de afastamento dos lugares de maior envergadura curricular.

A parte vencedora do PSD vai viver os próximos dias no deleite e o pior virá com a reabertura dos dossiers, que têm lá escrito os próximos passos, ficando apenas espaço para a crítica de serviço e intangível.

Passos Coelho, sem a tribuna parlamentar e com um grupo que não escolheu, vai andar por aí com o seu livro de ideias debaixo do braço e, tal como Meneses, vai ter de produzir opiniões avulso sobre a vida do país, que não são vinculativas mas podem contribuir para a fogueira.

O novo presidente é um neo-liberal convicto, tem ideias claras sobre os sectores rentáveis do Estado que são apetecíveis para os privados e trabalhará nesse sentido, como na redução exclusiva da despesa com o sector público, no que resta da protecção social.

Vêm aí tempos difíceis para todas as partes. A população sabe que lhe destinam carregar o sistema às costas, o Governo vai governar o que aplanou e recolher os frutos, o PS vai gerir o fim do unanimismo, com o decrepitar de Sócrates e a nova era de ousadia das críticas internas, o PSD procurará saber quem é e o que quer, com uma missão definida: eleger Cavaco.

Com o país refém do deficit, da dívida pública e do policiamento de proximidade, todos têm de trabalhar na mesma direcção, com ou sem precipitação de eleições, que só mudaria as moscas.

Alguma escribaria tem lançado apelos para que apareça um Programa razoável e pragmático, claro que para os mesmos fins e, alguns focos saudosistas, clamam por lideranças fortes, que depois das experiências mal sucedidas com Cavaco e Sócrates, não sabemos se de estilo mais próximo do passado.


Luis alexandre

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