quinta-feira, 29 de abril de 2010

SÓCRATES SABE NADAR IÓ…



José Sócrates é, sem dúvida, o mais sagaz de todos os primeiros-ministros da era democrata-burguesa, evidenciando uma capacidade de leitura política dos factos por antecipação, colocando-o em posição de tirar vantagens. Nem Soares se contorceu tanto.

Sócrates atravessou 4 anos de governação com as tropas internas em aprumo, pôs o país a pagar os custos do deficit, tirou argumentos aos opositores e, só foi vencido, tal como o amigo Constâncio, pela sua “ignorância” sobre o trabalho subterrâneo dos financeiros e banqueiros.

Pôs o país a trabalhar para nada, armadilhou as instituições e empresas públicas com os correlegionários, numa ambição pessoal desmedida de segurar o poder e, sem saber de nada, forjavam-se teias de silenciamento de opositores, de apagamento de investigações consideradas comprometedoras e manteve o aparelho de Estado em permanente arraial e sob ameaça de falência.

Neste percurso eloquente, o país votou-lhe a entrega das chaves no ano passado, desconfiando dos adversários e, não enjeitando o gosto, José Sócrates, enquanto prepara o trilho do novo programa de salvação nacional, com as vontades dos adversários que se chegarem à frente, atalha também a sobrevivência do seu Governo periclitante.

A catástrofe da Madeira, ainda com a memória fresca sobre o caldo entornado do OE e dos dinheiros para a região, aproximou os dois adversários pela única maneira possível, o montante das ajudas de solidariedade nacional, que deve ter tido episódios de olho por olho, dente por dente, com final feliz, representado no inchaço dos dois políticos. Jardim conseguiu o dinheiro em tranches e Sócrates terá trazido no bolso a simpatia para os próximos OE e PEC.

Não sendo original o processo de reconciliação, é um contributo para o clima de entendimento entre as duas partes do território, dando substância aos necessários acordos futuros com as forças partidárias, para porem o trabalho na ordem.

Trabalho que não está pelos ajustes e mostra não querer baixar a cabeça. As manifestações e as greves estão na rua e os quadrantes de poder que construíram a actual situação, estão inquietos nas suas faustas regalias, ganhas a pulso… de lei e, já adiantam, numa injustiça para com as omnicapacidades de José Sócrates, a ideia de um Governo de salvação nacional, incluindo o PCP, o que coloca o BE com o estatuto de indiscutível.

A realidade imparável, somatório de muitos factores sociais que se transformam, tanto pode ditar o derrube (improvável) do Governo pelo caso aleatório do negócio PT/TVI, como podem ser as prováveis forças da razão dos movimentos populares de contestação, que se recusam a pagar os custos de uma crise que não provocaram.

As duas faces da moeda compreendem os seus papéis no melindre da situação e, o PR, mais atento do que nunca à melhor forma imperiosa de agir, vai dramatizar o discurso à população, abrindo caminho às acções governativas de usar o poder das palavras ou do chicote.

Daqui para a frente, o que importa à classe dominante, são os fins.


Luis Alexandre

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