quinta-feira, 8 de julho de 2010

A propósito de uma afirmação da ministra da Saúde...

Ensaio sobre a sopa da Ana


A rica sopinha portuguesa, de panela, que tem raízes profundas no cruzamento do instinto de sobrevivência e na fome de um país historicamente mantido pobre, que passou nas mesas da criadagem real e se estende aos serviçais modestos das repúblicas, foi elevada à categoria, pela voz ministerial, de sustento nacional da crise.

A velha tranca da barriga, como lhe chamavam os nossos antepassados, enriquecida pelas verduras da horta portuguesa, entretanto arrendada ao quase abandono, por ordens de muitas Anas europeias e a cumplicidade de hortelões liquidatários como Soares, Cavacos, Barrosos, Guterres e Sócrates, que nunca deixaram de apreciar o preço pago pela morte dos citrinos e outras frutas e verduras, volta à moda como receita de saúde na razão de manter vivos os contribuintes.

A sopa portuguesa, salvo a resistência da pequena horta lá de casa e de uns tantos empresários resistentes do gosto pelos sabores e orgulho da terra portuguesa, tem os tomates, as cenouras e os ingredientes que a balança de importações, na forma humilhante de contrato social com a Europa, estabeleceram.

A sopa portuguesa é um dos pilares dos costumes populares, que faz parte de alguns pesadelos de infância, num contributo seguro para o fortalecimento físico e do carácter da têmpera nacional, que vai fervendo em lume brando nas afrontas e tem no tempo o saltar histórico de tampas.

A voz que ecoa o valor da sopa, conhece a expressão das tramas actuais do assalto à qualidade de vida e no calor da parte da culpa, o remorso patriótico, que está longe de se virar para o saque permanente das farmacêuticas, fonte de rendimentos de uma parasitagem bem alimentada, limpa a consciência com a recomendação da velha receita.

A cultura indígena, na sua aparência frágil, nunca abandonou as virtudes da sopa e continua a pô-la na mesa como solução da negação de recursos, subtraídos em colheradas por um Estado e um sistema financeiro, sitiado de anafados insaciáveis. Os políticos e banqueiros da praça, na gíria popular, “estão às sopas de alguém, quando deveriam levar sopa”.

O conselho da Ana, cheio de boas intenções católicas e de pacotilha dita socialista, respaldado nas memórias do serviço da sopa dos pobres, é o que lhe apraz dizer, como ministra da crise e de um sector afundado no despesismo de super clientelas, ensopadas em hemorragias de milhões.

A ministra dos medicamentos e do continuado enterro do SNS, no domínio da falta de saúde do Estado, a quem nunca deixámos de levar a sopa à boca, ao pedir para avançarmos para a sopa entre-paredes, conhece os números das casas dos portugueses e o sofrimento acrescentado que é pedido aquela parte dos que não têm saída, sabendo que a mesma era uma entrada, terá agora de passar a prato principal, porque a carne e o peixe já lá vão, e com o objectivo de não ver pioradas as estatísticas da tuberculose e outras doenças.

O ditado popular diz: “da mão à boca se perde muitas vezes a sopa”, que significa que “por um triz, se perde às vezes o que se deseja”.

A sopa não ofende a população portuguesa mas, a inocência governamental da proposta da Ana, sim!

Não estará na hora de pormos a sopa ao lume?


Luis Alexandre

2 comentários:

Anónimo disse...

anda a aí um que quer organizar a sopa dos pobres que e a mesma que dizer tratar tratar so da cura que quem faz o mal fica-se a rir, á pois ele é socialista e se falar com o Deiderio fazem boa dupla e ate poeem a mesa na rua que está calor.

Anónimo disse...

ó anónimo vai-te tratar. que ainda es capaz de precisar dela