quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Casa onde falta o pão



Com o crepúsculo da estação balnear e o aproximar da desolação das portas fechadas, das ruas vazias, dos apetrechos encostados e das praias entregues à força do Inverno, ressaltam as velhas preocupações de uma região - como continuar a sobreviver -, porque é disso que se trata, conhecido o desgaste de muitos anos do velho modelo de estrutura turística.

Repetindo-se em conceitos de necessidades e renovação, os velhos e novos dirigentes espremeram o modelo para lá dos limites sem que as acções acompanhassem as palavras, estando as responsabilidades sem dono e os empresários e trabalhadores sem rumo.

A actividade sazonal vai acabar com números ainda mais graves que os anos anteriores, quer em dormidas como em média de despesa, os estrangeiros não se deixaram convencer pelo Allgarve e outros programas, incluindo os das ofertas e, os portugueses, vieram com o que dispunham para a mudança de ares e não porque o Presidente da República os chamasse.

O modelo de sol e praia respondeu à procura, o Algarve preencheu alguns dos espaços com muita chinelada e camisas russas de classes médias e baixas, onde a gritaria dos miúdos e o estilo de conversa de bairro ecoou, num incómodo para alguns ilustres visitantes e residentes, uns senhores das suas importâncias e educação e, outros, senhores dos direitos de ocupação permanente.

Ralharam alguns dos ditos em espaços públicos de opinião, mostrando o incómodo pela qualidade dos nossos visitantes, factos que não são novos e estarão na distracção mental, dado o espaço plural da região e em que as leis da procura e oferta e o envelhecimento e afastamento das acomodações, vêm determinando o nível dos clientes.

O Turismo de massas inundou o Algarve como inundou o mundo, porque é uma actividade de base democrática e disso, cedo se aperceberam os empresários. As ilhas de qualidade continuam a existir, segregam pelo preço e aí, as más educações e os distúrbios têm outra classe e desculpabilidade paga a dinheiro.

O Turismo tem os seus próprios problemas, que passarão pela estrutura educacional a outro nível que não o da responsabilidade pela falha do sistema educativo do nosso país e dos países emissores de turistas.

As queixas das partes não são desconhecidas, terão até razões aceitáveis e existirão na imperfeição dos seres humanos e das estruturas envolventes do Turismo.

O trabalho dos que têm responsabilidades no sector é o de análise, intervenção e correcção permanente, o que nunca esgotará as ocorrências nem poderá ser confundido com a livre circulação de pessoas.

O Algarve não está mal pela qualidade dos turistas que recebe mas, por outras razões e nenhuma de desprezar, como a fraca base cultural dos seus intervenientes, pela insuficiência de formação profissional, pelo excesso de oferta de má qualidade, pela ocupação indevida e destruição da linha de costa, pela insuficiência de meios de segurança, pelo atraso na sua diversificação, pelo desinvestimento em meios de comunicação e transportes e pelo desordenamento urbano e paisagístico, onde nem a arquitectura tradicional, fauna e flora escaparam à gula dos betonizadores e satélites, que reclamaram recentemente para si em congresso, o papel de locomotiva para sairmos da crise.

Todos estes erros se incorporam na má gestão política de uma das principais indústrias do país, onde o Algarve sempre teve uma posição de destaque nunca respeitada e, como tal, nunca compensada, estando a maior responsabilidade na permissividade do lado de cá.


FORUM ALBUFEIRA

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