segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Quem tem bóia?


A montagem da actual situação política, com o empenho claro de manter as ilusões no povo português de que tudo gira nos termos do próximo OE e na vontade exclusiva e obscura dos dois habituais partidos, conspurca a análise do que está em causa e revela o grau de prepotência que estes exercem sobre o país.

O concurso de ideias sobre o OE arrasta-se, com o mesmo pano de fundo - a podridão em que mergulharam o país -, estando os dois concorrentes ao exercício do poder num derramamento dos limites da dignidade, sem a farsa dos pedidos de desculpa, limando de portas fechadas as propostas para a ordem de pagamento que tem de ser cumprida.

Nos fundos perdidos de S. Bento e blindados do obscurantismo popular, amargam o plano que os tirará do sufoco da incompetência, onde o que conta são as decisões rápidas porque os patrões apertam.

Quem não queria mais impostos engole, quem não cedia já quer confraternizar, tudo com os olhos postos na permanente verborreia política do futuro do país, que passado o centro da tempestade não se escusam de apunhalar para as novas crises de obediências e proveitos.

Gerações de políticos, incluindo os que fizeram oposição ao anterior regime, produziram o actual contexto, repudiando o lema “orgulhosamente sós” de Salazar, substituindo-o pelo “orgulhosamente europeus”, cujos resultados insistem em peneirar a verdade de que não temos voz em qualquer matéria e que o nosso esforço por preservar a UE, vendida como salvadora, não tem correspondência nas potências mais ricas.

Potências que, para além de ordenar e comprarem a destruição das nossas forças produtivas, se surpreenderam com os seus próprios jogos financeiros, não respondendo como um todo à crise, mostrando à evidência as fragilidades construídas de cada economia e acabam de enterrar mais uma teoria europeia – a do multiculturalismo -, que serviu de capa à necessidade de mão-de-obra barata, para voltarem a adoptar em termos territoriais as exigências da segregação.

De Belém a S. Bento, passando pelo Parlamento e os afins partidários, está estabelecida a premissa de que os une compor o que descompuseram, que importam as lealdades para quem manda e fazer vingar as estruturas do regime que se pressionadas pela revolta do povo lesado, cairiam como farrapos.

Com a tragédia iminente, o capitalismo solvente, impôs a ordem das coisas - o futuro do sistema – e só depois quem tem unhas para o poder.

Entre o atoleiro de avisos, preces e apelos dos que podem ver as regalias irem ao fundo, sobressaem algumas pessoas que não se atolaram no regime, percebendo o desconcerto geral e a pouca lucidez da febre do poder, vão avisando que as consequências das soluções preconizadas se estenderão por uma década ou mais de pobreza.

Trinta e seis anos de democracia parlamentar burguesa em gestão de desperdício, com mais uma década de sacrifícios sobre promessas não fundadas, o salazarismo/marcelismo só será vencido em tempo..

A classe política portuguesa em vez de estar a combinar as novas regras da exploração, com todos os matizes parlamentares concentrados nos seus papéis, principais ou suplementares, devia estar a ser julgada pelas responsabilidades na dimensão da destruição do país.

A jornada de luta de 24 de Novembro tem de ser mais um passo histórico para esse julgamento.


Luis Alexandre


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