sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

A encomenda


Com o país adiado e livre da governação autónoma de Sócrates e do PS, partilhada pelos apoios cirúrgicos do PSD, seguimos em piloto automático sob as ordens e imposições dos credores. Primeiro-ministro e governantes só têm de comparecer nas reuniões a que são chamados, atenderem o telefone e seguirem o guião.

Na última dessas reuniões, José Sócrates recebeu uma encomenda europeia em troca de aliviar o banquete da chantagem sobre aquilo a que os credores e os seus servidores locais chamam de dívida soberana.

A pressão nas percentagens dos juros foram, durante semanas, acompanhadas dos conselhos dos nossos credores, que continuam a acreditar no nosso país como um recanto recomendável para bons negócios e bons lucros, servido de uma classe política obediente e que não rejeita a anulação.

A encomenda solicitada é muito simples e impõe-se numa determinada objectiva porque, depois da estabilizada livre circulação e benesses tributárias dos capitais sem compromissos de fixação e contribuição para o desenvolvimento local, a exigência da liberalização dos despedimentos e novas dilatações nos subsídios ou alívio de custos sob os mais variados pretextos onde se abusa da cortina da estabilidade e crescimento, é o fecho de círculo.

As medidas despachadas pelo Governo na véspera de um Conselho Europeu de prestação de contas, cujo timing de apresentação é por si revelador da intenção de golpear a opinião pública, voltam a incidir sobre os trabalhadores, satisfazendo as exigências externas e os seus prolongamentos nacionais, de dar passos na liberalização dos despedimentos e pondo estes e o Estado a suportarem os custos e a facilitarem o lay-off, com diminuição da remuneração dos trabalhadores, entre outras como, a satisfação das exigências dos senhorios sobre despejos, que não condenamos em abstracto, depois de muitos anos sem punição sobre a degradação, que agora se pretende apoiar em isenções e nos fundos do QREN.

Para a criação de emprego, necessariamente cada vez mais precário, é preciso satisfazer a bocarra dependente e pressionante do capital, que sobre os lucros e cumprimento das responsabilidades sociais continua a viver na impunidade e com as portas escancaradas de saída para os paraísos fiscais, onde se juntam para formar as correntes de especuladores, sob o nome de investidores, de que se queixam os governantes.

O Conselho Europeu destes dias, decorre sob a desconfiança, com os dois principais beneficiários da criação da UE a marcarem uma posição de intransigência que virou solidariedade, não vão os seus interesses espalhados sofrerem revezes não contabilizados e gerarem situações de instabilidade que passe as suas fronteiras.

O fumo branco da defesa do euro e das economias mais deficitárias parece ser um adiamento até novas estratégias, colocando-se o BCE na dianteira da prevenção com um aumento substancial das suas reservas.

A Europa unida para o crescimento e desenvolvimento sustentado dos seus parceiros descambou nas assimetrias conhecidas, com aqueles que mais se apropriaram da riqueza a ditar as ordens até nos interesses da imagem de condescendência vigiada.

Não querendo admitir em público, os governantes dos países da UE, estão conscientes das profundas assimetrias geradas na economia e finanças dos seus membros, que não passam despercebidas das opiniões públicas.

Os europeístas portugueses, tipo Mário Soares, que negociou e assinou a boa nova, ou mesmo Cavaco Silva, que governou e regalou sentado sobre os baús enviados e os outros que continuaram deslumbrados com a teta da vaca, vêem-se a braços com os seus vaticínios furados, porque da receita da confiança são forçados a reconhecer as dúvidas para o resto do caminho do sonho, engendrando novos argumentos e analgésicos para um doente que forçosamente está a passar pela incerteza da mesa de operações.

A comunidade nasceu sob razões económicas e financeiras e os seus alargamentos e medidas estruturais nunca perderam de vista estes horizontes. Os resultados estão à vista!

Luis Alexandre

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