quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

BPN, Cavaco, Alegre e os rabos que fogem à seringa


Para derrubar o cavalo, o restante concílio presidencial reúne-se enfaticamente à volta do caso BPN.

De entre os Bancos, o BPN, como o mais falido (os outros já vão em mais de 30 mil milhões pedidos com o aval do Estado e o buraco não tem cura), concentra o gume do debate, como se este caso fraudulento e em gestão de estratégias para salvar responsáveis e cúmplices, fosse a questão de fundo do defraudado sistema financeiro português.

O debate para o lugar de verbo-de-encher presidencial deixa em branco as razões, os responsáveis pela crise e o manancial de consequências negativas que advieram sobre o povo português, numa clara intenção de reduzir o acto eleitoral a uma formalidade de escolher qual dos candidatos é o mais indicado para servir o sistema e a sua recuperação.

E nesta envolvência, um Cavaco Silva acossado, com problemas oftalmológicos nos cinco anos de cadeira presidencial e oito de esbanjamento pelos amigos, repete a falsa virgindade da sua honestidade e competência para o cargo em disputa.

Dos outros zés-pereiras, que aparecem para a aritmética de uma segunda volta, porque à partida Manuel Alegre não oferecia garantias aos poucos apoiantes do Governo, a outras camadas do PS e aos interesses estratégicos do partido da televisão - o BE -, e por último ao PCP, resta-lhes o papel de apenas explorar as contradições superficiais e cansar a aparente fraca memória de Cavaco Silva, que é favorito não por méritos próprios mas porque a conjuntura o favorece e se avizinha uma votação de contestação a Sócrates e quejandos.

O principal opositor - Manuel Alegre -, homem que nos habituou à inocuidade das suas elucubrações políticas, protagonizando o descontentamento popular exclusivamente sob a forma de poesia discursiva, esteve sentado no parlamento nas décadas de degenerescência, dominando informação privilegiada e apadrinhando as políticas de destruição da nossa economia e finanças, fazendo-se passar nesta corrida, por mais inocente que Cavaco.

A cumplicidade com o passado das várias governações, ainda que em patamares diferentes, faz dos dois contendores parte dos problemas que o país atravessa e daí a sua concordância com o pagamento da dívida e a injustiça das medidas inscritas nos diferentes PEC que recaem sobre as camadas mais pobres da população portuguesa.

Na disputa que travam pelo campeonato da seriedade (?!), enrolam-se nos pormenores do BPN que envolvem interesses pessoais de Cavaco Silva e, propositadamente, ambos furtam-se a discutir as profundas responsabilidades do Governo, do Parlamento e do ex-Governador do Banco de Portugal, correlegionário de Alegre no PS e agora promovido para o BCE.

A SLN e o BPN são uma parte da actividade financeira criminosa do país que nos levaram à bancarrota e que ninguém ousa aprofundar. O universo de poder das multinacionais, das maiores empresas nacionais e do sector empresarial do Estado que protagoniza o caso “Face Oculta”, onde militam e se revezam os quadros dos partidos que apoiam Cavaco e Alegre, também não os entusiasma.

Constitucionalmente, o cargo de presidente está esvaziado de poderes mas isso nunca retiraria a um desempenho sério, a autoridade de denunciar as más condutas políticas e a acção sobre o incumprimento dos programas com que os partidos que formam os Governos se fizeram eleger. Tal como os anteriores presidentes e apesar dos arrufos institucionais, o próximo, não tem qualquer intenção de mudar a convivência com esta ordem de razões.

Luis Alexandre

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