segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

A direita quer uma mudança de regime


Com os corsos eleitorais em esforços finais, a nota dominante foi o branqueamento do que está para trás da crise. Nem o duplo assalto ao Banco e às Finanças Públicas animaram o fôlego dos candidatos, para não se mostrarem mais pequenos rabos ao léu. Calaram-se as acções… de um e as do outro.

Os usos domésticos da democracia parlamentar burguesa ganharam tiques americanizados em volta das carapuças, descontadas que estão as cumplicidades e as diferenças de propostas para os mesmos objectivos.

Os candidatos presidenciais, perfazendo todas as partes a mesma moeda - salvar o sistema que os alimenta e lhes continua a dar folga -, tirando os enlameados, bateram-se como bons patrícios pelos valores da pátria e o papel relevante (o único acto reconhecido foi a higiene de Sampaio sobre Santana com replicação marcada) do cargo de presidente.

Os problemas estruturais retornaram aos altifalantes dos speakers presidenciais das máquinas partidárias ou das suas facções, em reposições eleitorais que ludibriam os esquecimentos ou a sua destruição nos intervalos do exercício da gestão com os seus suportes parlamentar e sindical.

Com os custos da bancarrota forjada como pano de fundo e o enredo de quando e quem cometerá o acto de traição para uns ou de lucidez para outros, de convidar os agentes dos credores a entrarem para assegurar o resgate da dívida que é imputada ao povo, os candidatos presidenciais, divididos na absolvição da culpa, afirmam-se conscientes de “representarem” um povo de boas contas, ou seja, usar o cargo para ajudarem nas tarefas de o fazer vergar ao pagamento.

Nenhum putativo eleitor português tem dúvidas do que o que está em causa nestas eleições presidenciais, é a luta pela supremacia eleitoral para legitimar o despedimento ou a continuidade da legislatura. A continuidade de Cavaco abre as portas do poder ao PSD e a miraculosa eleição de Alegre permitiria a sobrevivência do Governo PS e daria alento à sua ala esquerda, actualmente independente e organizada com o nome de BE.

Cavaco tomou o pulso ao país no decorrer da campanha e concluiu que à crise económica e financeira se pode juntar a política, para a qual deliciadamente trabalha e, Manuel Alegre, percebendo o falhanço do seu objectivo, reagiu estonteado à clarividência.

Manuel Alegre ainda ia nos panos quentes, quando o avanço do parceiro deu o tiro final para a derradeira volta. Tudo antes dos pesos pesados partidários saltarem para a rua e se esclarecer quem propôs o vaguear das razões da candidatura soarista do pacato Fernando Nobre.

O desperdício eleitoral não mudou nada no país, a bancarrota das ideias continuou, o desemprego também, os títulos de mais dívida vão municiando o saco roto, a economia vai derrapar e a que resta fica com a incumbência de pagar a factura da subserviência internacional planeada, libertando quem arrecadou as mais-valias da produção e os bónus europeus que, vejam o patriotismo, reinvestem na dívida pública de juros apetecíveis. A política BPN de autores, actua por outros meios.

O país que vai a votos sobre quem reúne condições para representar o cúmulo dos factores de crise é: muito mais de 2 milhões de pobres, mais de 700 mil desempregados, um milhão de precários, salários mínimos e recibos verdes, um milhão de miseráveis reformados e uns milhares de imigrantes explorados, sem esquecer os mutilados salariais da função pública.

Quando estivermos a votar, estaremos a sancionar as nossas condições de vida e a sua continuação! Contudo, entre um candidato de direita e um democrata burguês, Cavaco Silva e Manuel Alegre, um representa o anúncio prévio de Ferreira Leite, da suspensão da democracia e, o outro, a condescendência com a democracia. Votar em branco ou abster-se é entregar o ouro ao bandido da direita.

Luis Alexandre

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