sexta-feira, 4 de março de 2011

Os sonhos de uns são os pesadelos da maioria


Nunca José Sócrates tinha corrido tão feliz para uma nova chamada de Merkel. Esta viagem não teve a mesma carga de humilhação das anteriores. O que mudou?

A felicidade de Berlim tinha nos bastidores a determinação do primeiro-ministro português em arrecadar a confiança da chanceler para o novo PEC a aplicar sobre o povo português, objectivo que foi alcançado e contava com uma inusitada fragilidade eleitoral para a disponibilidade de uma encenação bipartida.

Como o Estado anafado não dava grandes sinais de rápida recuperação e o valor da “nossa dívida” não deixa de contribuir e lançar anátemas sobre a estabilidade do euro (a Alemanha não está preparada para o seu desaparecimento e no futuro não deixará de preparar essa estratégia), a patroa da Europa, no equilíbrio da sua prestação aos olhos dos seus compatriotas, estremecida e acinzentada nas hesitações sobre o caso da Grécia, também precisa que José Sócrates a ajude na imagem de que os puxões de orelhas a Portugal se traduzam na rápida diminuição do deficit e na garantia de que temos condições para pagar o que devemos e acelerar as condições do regresso das empresas à exploração da nossa apreciada e barata mão-de-obra.

A pomposidade dos sorrisos de quarta-feira têm, o significado da autoridade alemã sobre o nosso país, mensagem que passou para toda a Europa e o mundo, facto que nas circunstâncias não incomodam o nosso primeiro.

Para Sócrates, condenado a viver estes tempos com a corda do combate ao deficit ao pescoço e não tendo margem para outros voos, resta-lhe a ele e ao PS, venderem a ideia de que podem conduzir as políticas repressivas exigidas.

Berlim, numa doce ilusão na situação amarga do Governo, não foi o desastre nem o fim para Sócrates e nem o arranque para Passos Coelho, mas foi a marcação do terreno para o desastre económico do país e da qualidade de vida dos portugueses. Berlim apenas e como se impõe, tomou conhecimento em primeira mão da contundente nova vaga de medidas anti-populares.

A nossa soberania, pela condução sucessiva de PS e PSD a nível governamental e com o beneplácito dos parlamentos, só resiste nas mentes dos portugueses. De soberano, só nos resta a dívida.

Longe vão os tempos da inebriação desenvolvimentista dos nossos governantes e dos seus partidos, que criaram uma corte parasitária à custa do endividamento do Estado, do deixa andar de uma parte influente da economia que nele se pendurou e dos movimentos sindicalistas que se acomodaram num modelo de economia a prazo e apoiada em salários baixos e cada vez mais precariedade.

O regabofe do crescimento insustentado encheu a barriga dos políticos, das empresas parasitárias que invadiram a economia e lhe sacaram os proveitos, dos Bancos, que se endividaram barato e venderam caro sem que os resultados ou mesmo o capital esteja nos seus cofres, vivendo a população com os seus salários que se dissiparam nos jogos de aliciamento ao consumo e ao endividamento.

Agora que falta o dinheiro na economia e nos cofres do Estado, toca de sacá-lo dos bolsos de quem trabalha, dos que já se reformaram e do universo das debilitadas empresas sobreviventes.

A senhora Merkel não quer saber quem vai aplicar o PEC 4 ou o quinto, quer garantias e resultados. Sócrates, Passos Coelho ou Cavaco, o grande capital internacional e o conjunto de credores e especuladores também!

Luis Alexandre

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