terça-feira, 22 de março de 2011

Política rasca



Apesar de nos terem enrascado, o povo não se sente rasca. Rasca é esta democracia parlamentar burguesa que, sustentada em promessas em dezenas de actos eleitorais, nos conduziu a nova bancarrota.

Percebemos para onde nos empurraram mas nem todos percebemos a gravidade da situação. Para os partidos da ordem instituída, a desordem que causaram nas finanças públicas e a incapacidade do sistema económico em dar respostas, continua a ser motivo de segredos e cozinhados. Os políticos ensaiam estratégias para a saída do enredo e o povo vive amargurado no peso da factura e no próximo papel de lhes renovar os votos.

O Governo vai e vem com os recados para os patrões europeus, anda nisto há mais de um ano e agora o PSD, depois dos seus apoios expressos com pedidos de desculpas à mistura e com a retoma de Cavaco, diz que não vai deixar o “país no pântano”. Quer esclarecer quem vai continuar com o poder de fazer e aplicar os novos PEC.

Como a diluição das responsabilidades passadas parece controlada, o poder compensa e o papel do FMI, da UE ou do BCE não os afecta, o que interessa é fazer passar os sacrifícios pedidos como única medida de “salvar o país”.

Uma nova farsa de eleições estará na calha, o que contraria o discurso de posse de Cavaco Silva, que é conhecedor da realidade e da necessidade de mais medidas repressivas e preferia ver este Governo levar mais longe o seu papel de desgaste, no fundo aplicando uma visão estratégica contrária à pressa da nova legião do PSD.

A corrida de Passos Coelho, que já disse ver no FMI uma solução, assume-se como uma oportunidade de capela. A provocação de eleições serve os interesses que o alimentam no imediato, numa tentativa de demarcação da égide de Cavaco e deixando dúvidas entre a velha massa dirigista e a de suporte, sobre a capacidade e resultados futuros.

Sócrates, sem mais coberturas parlamentares, o desprezo da maioria do país e na paz podre do seu partido, ainda vê bolhas de ar para respirar politicamente. Ainda não está claro que a sua demissão, que entre os indefectíveis é um fôlego, tenha terminado a sua longa caminhada quixotista contra os deficits da República.

O PCP está contra o Governo que acusa de práticas de direita e a central sindical que controla diz aos trabalhadores explorados que não vê alternativas!

O BE, que recentemente viu a sua moção de censura ir parar ao lixo, está na crise como a “esquerda de confiança”, que critica as cedências às políticas de direita do PSD como se não fosse o PS e o seu Governo quem as propôs.

Num cenário destes, compreendem-se as abstenções eleitorais e os protestos da geração à rasca e das que se lhe juntaram. E estarão longe de parar!

Os políticos e o seu quadro parlamentar querem manter o poder e a iniciativa e, do outro lado, estão as aspirações esmagadas da população. Sob a capa da crise, são os interesses capitalistas que se reforçam sobre o trabalho e segundo estudos, actualmente a relação rendimentos do capital/trabalho cifra-se em 65 contra 35%, quando no marcelismo estava nos 55/45%. É para pensar!

A poeira política volta a estar no ar. Para enganar a multidão. Até os homens da ciência e da cultura, com uma visão diferente sobre os caminhos para a mudança, têm receios de darem passos. O povo e a sua linha avançada, têm de tomar a liderança!

Luis Alexandre

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