domingo, 8 de maio de 2011

Depois da dívida e da ingerência, vem nova farsa


Com o acto solene de apresentação do próximo programa de Governo apelidado de “duro mas justo” pela “troika”, fica mais claro aos olhos dos portugueses a dissipação das diferenças entre PS, PSD e CDS. Eles são a feitura, a dimensão e a pretensa solução da crise, faltando cumprir a obrigação de forçarem o povo a pagar.

Depois da última visita do FMI, a clarividência das governações seguintes, vomitou as políticas da compreendida destruição da economia estrutural, que foi a alimentação da crise, e nenhum dos artigos do famigerado acordo alcançado (quão difícil imaginem), faz referências para a sua reconstrução.

Lavrado o acordo pelas forças políticas que detêm o poder e representam os interesses do controlo e da apropriação da riqueza gerada pela produção, fica claro que o mesmo pretende salvaguardar os interesses dos especuladores sobre a nossa economia e finanças, deixando o país mergulhado numa recessão sem precedentes.

Com os líderes e negociadores a anunciarem que o pacote financeiro é para os dois próximos anos e o do PSD a ser mais concreto: “que a ajuda cobre apenas 80% das necessidades de 2012”, o que podemos depreender desta manobra em que nos engodam com um possível inicio de crescimento no 1º semestre de 2013, é que os factores de pagamento da dívida foram divididos em etapas e se estenderão por muito tempo.

Se o dinheiro insuflado se esfuma nas despesas correntes e no pagamento de empréstimos e juros atrasados, com uma economia em recessão de continuada satisfação e dependência externa, que justificam a gravidade das medidas anunciadas, deduzimos que o que nos pedem agora é um cheiro suave do que preparam para o futuro.

A grande mentira do plano que mantém unidos os partidos da direita liberal e ultra-liberal, é fazer crer que os mais desfavorecidos não viram os seus rendimentos base alterados, chegando-lhes a factura por via dos impostos gerais, como o IVA, as taxas moderadoras, os custos dos transportes, medicamentos, água, gás e electricidade, juros bancários, IMI e muitas outras formas que não foram explícitas.

Esta fórmula negociada de somatório dos PEC mais as exigências dos especuladores e dos grandes investidores, que põe o grande capital e os seus interesses a salvo e querem um mercado de trabalho facilitado para entrarem e saírem dos seus investimentos com os bolsos cheios, constitui o principal objectivo de toda a chantagem que conduziu à ingerência, a qual vergonhosamente vai tão longe como exigir que o povo português vote de forma acéfala numa base política para a sua exploração.

Do ponto de vista filosófico, a luta entre os interesses de classes contrárias, as que dominam o poder e as que foram subjugadas está ao rubro, constituindo o 5 de Junho um primeiro embate de escolhas, entre sermos humilhados no pagamento de dívidas resultantes da exploração e das políticas oportunistas que vergaram o país e a coragem de assumir posições de rotura com processos e valores rotulados de democráticos.

A ilusão eleitoralista, que por forma de lei conduzirá à base governamental ajustada às exigências externas e que já estará cozinhada nos seus possíveis aspectos (existe um acordo assinado entre as forças consideradas de confiança), não pode condicionar a imensa maioria que por voto expresso, branco e pela abstenção, não concordam com a situação política e devem assumir por outros meios o seu repúdio.

O plebiscito do 5 de Junho constitui um marco na História do pós-25 de Abril, onde novamente forças golpistas e por meios diferentes, querem a manutenção do poder e do regime corruptos.

Luis Alexandre

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