quarta-feira, 18 de maio de 2011

Branqueamentos…

O livro cuja leitura se recomenda, “Gente Comum – Uma história na Pide” de Aurora Rodrigues, foi o pretexto para um debate realizado no “Pátio de Letras” em Faro, onde também pode ser adquirido.

Como disse a autora, o livro nos seus relatos de uma experiência amarga do que foram os calabouços e os processos torcionários da polícia política do regime fascista, fundamentados e enriquecidos em consultas de arquivos, pretende interessadamente não deixar cair a memória sobre uma das formas mais ultrajantes do seu funcionamento.

Uma jovem estudante de direito, como muitos outros, na sua consciência política de contestação do regime foi vítima de prisão arbitrária, espancamento e tortura e uma tal vicissitude, nos tempos cinzentos que atravessamos, precisa chegar ao conhecimento das novas gerações para que muitos historiadores e contadores de histórias não apaguem este lado negro da nossa História.

Na altura militante do MRPP, este seu traço de escrita de homenagem ao seu colega de escola e camarada de partido Ribeiro Santos, morto às mãos da Pide na Faculdade de Direito de Lisboa, é um grito de mulher e um ângulo de visão da forma e do papel das mulheres na vida política e um apelo para que outros que sofreram as atrocidades nas mesmas condições, façam as suas denúncias e não deixem que se branqueie o passado.

Com o derrube do regime por uma facção do exército colonial-fascista, que tinha por principais razões do golpe de Abril de 74 encontrar uma saída para o atoleiro da guerra face aos movimentos de contestação no país e a pressão de instâncias internacionais, nas lutas revolucionárias que se seguiram, Aurora Rodrigues revisitou Caxias na companhia de mais 400 militantes do MRPP presos em assaltos feitos às sedes a mando dessa mesma facção, organizada sob o nome de 5ª Divisão, controlada pelo P”C”P e executada pelo COPCON do “revolucionário” Otelo.

Reconhecida a importância dos conteúdos do livro para memória futura e fonte de trabalhos de investigação, o momento da sua estampa dá-se quando a vida do país e as forças políticas parlamentares que evoluíram depois do golpe militar de 74, vão colocando os valores revolucionários e de transformação social na prateleira, numa campanha bem organizada e mal intencionada de lavagem da repressão científica do regime fascista, cujos valores sociais, económicos e financeiros se aproximam da situação a que conduziram o país.

As condições políticas gerais do estado do país antes do 25 de Abril de 74, retirando o profundo repúdio pela guerra colonial fascista de atropelo de nações que lutavam pela independência, manifestam-se na actualidade sobre a vida da população portuguesa de forma cruel. Os factores de exploração da mão-de-obra e o empurrar de mais de metade da população para o limiar da pobreza, a falta de oportunidades para os jovens, o roubo sobre as reformas, o aumento dos impostos e dos bens essenciais e o exército de desempregados sem direitos são os resultados de uma gestão de roubo sobre a riqueza produzida.

A direita, herdeira do regime fascista, metamorfoseada em partido popular e social-democrata e uma suposta esquerda, denominadas de socialista, comunista ou de efeito televisivo, deliciada pelas mordomias do regime parlamentar, são os obreiros deste estado. E os seus esforços fazem-se para branquear as suas responsabilidades, mostrando-se receosos de quaisquer revoltas.

As condições objectivas da sociedade são de grande mobilização contra a situação que vivemos, tendo no outro lado da barricada os “revolucionários” actuais dirigentes que se serviram do regime, contando com a contemplação dos conformados com as memórias.

A História das transformações não pára! Ouve o passado para avançar!

Luis Alexandre

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