terça-feira, 29 de novembro de 2011

Excelente análise... permite-nos perceber a profundidade do oportunismo da intervenção do Programa Polis Albufeira/Câmara

Razões para a decadência dos centros históricos






Desde a descoberta pelo Homem de meios de locomoção mais eficazes e auxiliares às suas pernas, fosse o cavalo, ou qualquer outro, que a forma do espaço urbano tem evoluído continuamente em articulação com a evolução dos meios de transporte.

De então até hoje, aglomerados urbanos de menor dimensão até as Megalópoles têm sido desenhados em função dos transportes e necessidades de locomoção das populações. Os arruamentos evoluíram nas suas escalas, passando de simples estradas de terra por onde fluíam indiscriminadamente pessoas, veículos e animais até sistemas complexos, estratificados com passeios, passagens elevadas para peões, faixas ajardinadas, faixas para ciclistas, veículos prioritários, veículos ligeiros e executados com materiais modernos que visam transmitir o máximo conforto e segurança ao utente. Existem para suprir necessidades de locomoção seja por motivos lúdicos, económicos, de segurança, ou quotidianos e sobre essa premissa têm evoluído enquanto parte indissociável dos aglomerados urbanos que habitamos.
Por isso não há como ficar indiferente quando somos confrontados com intervenções urbanísticas supostamente bem-intencionadas, que ostracizam o veículo motorizado e interrompem rotinas diárias com centenas de anos, levando a profundas alterações na matriz das nossas cidades que morrem ao ver relegada a sua urbanidade. E com tristeza constatamos que tais intervenções não passam de mero experimentalismo académico, seguindo modas de desenho urbano contemporâneo, que testam nos centros históricos a mumificação e a cristalização, erradicando sistematicamente a circulação e o estacionamento automóvel. Consequentemente e a par de outros processos urbano degenerativos, despoletam a desertificação habitacional e a destruição do tecido comercial, pela falta de condições de acesso e pela forte redução do fluxo de pessoas.
Quem projeta e quem decide parece estar totalmente desfasado dos estilos de vida e aspirações modernas das pessoas, pois continua a implementar experiências utópicas que não mais faz que piorar uma realidade já de si muito grave.
Não esquecendo que a desertificação do centro também se deve a outras causas, há muitas culpas a atribuir a todas as intervenções impostas ao tecido urbano que o desfasam da realidade e que lhe negam o trânsito automóvel, contrariando o fácil acesso, dificultando o fluxo de pessoas tão necessário à sua sobrevivência.
Não é por acaso que frequentemente chamamos artéria a uma rua. Estabelecendo o paralelismo entre veículo motorizado e sangue, conclui-se que sem circulação sanguínea não é possível sobreviver, impossibilitando nutrientes e oxigénio de chegar às células. Como tal, sem circulação automóvel nas ruas, sem esse fluxo indispensável de pessoas, não é possível nutrir um amplo mercado habitacional e comercial, atualmente em acelerada decadência.
Há que repensar toda a ação projetista face aos centros históricos sob pena de tudo se agravar a níveis economicamente insuportáveis para recuperação.



Miguel Caetano

Arquitecto

(retirado do facebook)

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